Abas

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Choro seco

Nas terras onde não chove,
o vento faz curvas melódicas.
As terras rachadas também choram.
Choro seco
Arranha
Mas alivia.
Lá choro é vento
Vento que atravessa atrito os espinhos de mandacaru
soltando assobios 
em melodia menor
em lamento.
Por isso alivia.
males espanta
cantar é quase chorar.
Falo da seca que eu conheço.
Mas pelo resto do mundo deve ser igual
A natureza dá seu jeito de desaguar 

sábado, 22 de setembro de 2018

Lembrar
E não lembrar
Sonhar
sem pedir
com o paraíso
Acordar em naufrágio
Enxugar o corpo com as mãos
Escorregadio
Sem mapa
Sem nada
E lembrar de não lembrar

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Dizem que os golfinhos tem uma linguagem própria e complexa.
Eu sei que sim.
Eu fui golfinho nos últimos meses.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

banho maria


A paciência cozinha em banho maria as minhas decisões
coloca no juri sensações e reações e

gasta um gás

Mas a paciência mantém meu corpo sob uma temperatura aturável
continuo quente 
e atenta
E o vapor 
me faz flutuar
acredite
no meu próprio céu

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Agosto

Minha crença no tempo
coagida a existir
Sem permissão pra teimar
Escolheu, por obrigação, existir

É que ele não pede pra passar
Imponente, mal trisca o chão
não olha pro lado
Leva sem mostrar a direção
carrega a contra-gosto
e a gosto, se a gente deixar.

Isso é pra quem sabe o que está fazendo.
O tempo sabe.



*



Os fiéis do tempo
doutrinavam em meu ouvido:
sentimento é só matéria
Ah, eu teimei que não.
Falei que amor é impalpável
coisa de outra dimensão.

Tempo me bronqueou
falou que eu nada entendia de dimensão
mas que ele ia passar mesmo assim
que eu me resolvesse
sentindo o que tivesse de sentir

Isso é pra quem sabe o que está fazendo.
E o tempo acredita em mim.