Abas

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Torre de Papel

Papai e mamãe têm 
cheiro de papel ofício.
O papel de seus ofícios é
trazer papel para nos criar.
Uma vez papai ficou tão possesso
em ter papel que se esqueceu do seu 
papel de nos criar. 

Mamãe oficializou os sábados e domingos
como os dias de descansar.
Então eu e meu irmão fomos criados
pela televisão.
Nenhum de nós fala a mesma língua.

A gente sente saudade de montar na
cacunda de papai, de ir para a casa
de vovó, de receber beijo de mamãe por
um desenho torto.
Com essa vontade de fazer um monte de
papel, eu tenho medo de que a gente não alcance 
o céu.

Hilza de Oliveira

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Hoje é

Hoje pedi habeas corpus pra escrever
meu corpo pedia
e meu nariz coçava como uma calculadora.

Guardei o outro debaixo do braço
e rascunhei com dificuldade
apertando o braço contra o tronco para ele não cair.
Na verdade nem é rascunho
é chave em cadeado
é portão enferrujado
é o ginge do atrito.

Só aperto o lápis contra a folha e ela sangra palavras
e eu acho inútil.
Pra mim.
E pra você principalmente.
Apesar de bom.
Pois sempre concluo
sem conclusão.

domingo, 22 de setembro de 2013

enGULA

Comeu da curiosidade
e foi comida.
Carcomida.
E roída por querer
saber.

Hilza de Oliveira

sábado, 21 de setembro de 2013

Os trouxas do pano

O capitalismo é um tecido que não se rompe.
E cá estou eu já falando de produto têxtil, veja só.
A gente nasce é nu.
Pelado, pelado.
Aí vem uzômi e põe tanga em nossas vergonhas
— como mal disse Pero.
Uma vergonha é isso tudo.
Roupa a gente usa no frio, que é quando precisa.
Mas aí me vem uzômi querendo introduzir calça jeans
num país tropical e bonito por natureza!
[Pelado, pelado! Nu!]
Onde faz 40ºC durante 365 dias e 365 noites!
É de chorar um dilúvio com um negoço desse...
E toda luta soa vã e ilusória.
Tem gente que tenta dar elasticidade a esse tecido,
de modo alternativo e até um pouco conformado
de que é impossível desatar essas amarras.
Dessa trouxa de pano com todo mundo dentro.
Que trouxas somos nós...
Caímos na história do velho do saco que
prometeu dar doces e nos transformou em sabão.



[Eu acho que esse texto ainda não está lapidado e que merecia uns (muitos) reparos e melhoras, mas vai assim mesmo. Me sinto feliz de ter enxergado o efeito dessas coisas sobre o mundo, de não mais estar alheia ao pensamento sobre elas. A universidade me abriu os sentidos para pensar,  assim como o contato com gente e também a minha própria percepção. Estou feliz, mas estou triste e, assim como Charlie, ando me perguntando como isso é possível.]

Hilza de Oliveira

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Nem sempre. Vez em quando.

As vezes a gente começa com o "as vezes" e as vezes a gente nem começa. Porém não são todos os dias em que conseguimos arrancar poesia do que passa desatento cotidianamente aos nossos olhos . Não são todos os dias em que enxergamos partituras nos fios dos postes ou simplesmente observamos a paciência do cobrador de ônibus. Não são todas as manhãs que encontramos senhoras caminhando com um terço em mãos. Nem todas lhe encaram timidamente na esperança de receber um bom dia, mas quando ele vem,  ela volta a se concentrar em suas ave-marias mais embaladamente. Não são todos os dias que encontramos um cachorro deitado nas entrelinhas de sombras de um viaduto, exposto a uma única de sol, absorto, olhando pro céu com os olhos semiabertos. Nem sempre ele sorri. Nem sempre ele lembra da língua insistente que carrega na boca. Também não são todos os dias que alguém se preocupa em acordar uma figura cansada no ônibus para que ela não perca o ponto. Alias, não é todo dia que você dorme no ônibus. Tem dias que a rotineira volta pra casa vira passeio. O intervalo vira recreio. E a gente passa a ver o trânsito como uma grande oportunidade de criar historias e tirar cochilos.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O grande Próton

Certa vez, Neutrôn, cansado do seu próprio conformismo, decidiu que seria um Próton. Saltou os muros do seu núcleo e saiu a provar para toda a eletrosfera pessimista que, apesar de pequeno, ele podia ser mais. Ser +1. Então os senhores Elétrons, levados por tal discurso, começaram a também pular seus muros e escapulir. Saltaram e vibraram para além do átomo. Quando as suas energias já estavam quase esgotadas - embora se sentissem melhores e mais animados - de tanto difundir as ideias protonianas, retornaram para casa provocando muita luz.
Hilza de Oliveira

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Sinestesia

E se a gente girasse suas cores até a uniformidade?
Daria abacate.
com gosto de elegância, originalidade e receio.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Tecendo um texto

Distinto do vício, a vontade de escrever não é constante muito menos pontual, ela simplesmente faz cócegas, e a gente deita pra desamassar papeis e dobra-los em origamis. A gente espera o mais primitivo, queremos apanhar o sentimento do lugar exato onde descosturou e tranforma-los em comparações esdruxulas e metáforas de passarinho ao ponto de entender e sorrir mais claramente dos dedos estalados e o despontar dos olhos em direções saborosas. A gente sempre espera uma dança de palavras, cheias de coreografias e efeitos psicodélicos, mas vez ou outra ensaiamos um verdadeiro conjunto de palavras zumbis, drogadas sem porquê nem pra quê. Mas no final lá está a folha, uma verdadeira obra prima! Ou no minimo matéria prima pra origamis.

Júlia Carvalho

sexta-feira, 14 de junho de 2013

de leve

Ando em busca de palavras pro meu vocabulário pseudo cult
Daquelas que sem saber sabemos, exceto quando a duvida algema
Que levam nossa língua ao céu da boca
Que acenam divamente no meio da frase.
Mas cada suspiro de sono no meio da tarde me deixa vagarosa
e a mansa prosa, me pega, me apega, me aperta.
E fico burrinha, burrinha, repetindo "inerente, inerente" pro meu ser insistente
Existente de leve.
Júlia Caravalho

sábado, 4 de maio de 2013

de repente: confiança.

Já se passaram das 00:00 horas e meu pedido está feito. Não sei se forças superiores vão atende-los, alias, sapeca que sou, acompanhei cada segundo dos últimos 3 minutos. Re-li, anteriormente a sabotagem, textos antigos em busca de emoções que me palpitassem um pouco, porém a tecnologia barrou meu processo, pois não tive como borra-los de lagrimas. Tive necessidade de reescrever, ou manda-los pro meu eterno Dom Quixote, entretanto vi 23:57 no relogio pouco confiável do computador e depositei toda confiança nas horas iguais de um relógio atrasado. Torço pelo adiantamento.

domingo, 31 de março de 2013

meu Bumbo meu.

bum, bum!
Não são só onomatopeias
ouça o som dos bumbos, criança!

Queria um tanto de percussão
bumbos graves sem gravidade
Um acompanhante de corda bamba
uma marcação
um guarda chuva listrado

Assim como por traz de todo tamborim há
segurando, armengando, harmonizando.

Há se tivesse, eu, o bumbo

minha vida seria cantar
e ganhar trocados
eu e ele
em cada esquina de amor


Júlia Carvalho

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Teste do espelho. Auto-reconhecimento: o passo pra aceitação e mudanças

Eu que chego sem saber o que dizer e saio sem me despedir. Eu que não memorizo nada mais que nomes e contatos. Eu que me perco e sou vítima fácil dos amores. Que me culpo a maior parte do tempo. Aqui com a minha timidez e os meus receios. Eu que quero descobrir como é sentir saudades. Frígida? Talvez. Eu que ando pelos cantos e seguro muitos choros. Eu que me considero ignorante, no sentido de burra. Que nada sei sobre o mundo lá fora ("The truth is out there" e "Trust no one", não me esqueço). Eu que queria ter só um pouco mais de voz e coragem. Dar uns saltos, fazer isso e aquilo que ficou guardado nos planos. Agir, essa é a palavra. E me decidir também. Mudar. Será que eu sei sobre o que eu sei? Cadê a minha sinceridade naquela hora tensa? Lá se vai ela, me dando um tchau, fugindo por não querer magoar ninguém. Eu que me satisfaço muito facilmente. Eu podia fazer comentários melhores, ter uma resposta na ponta, pronta. Evoluir todos os dias. Ah, eu, se eu pudesse ser mais você..

domingo, 3 de fevereiro de 2013

mistério soluçante, melhor, solucionante.

foi como lavar minh'alma
trate-se de algo superior
ou até igual ao amor

olho na brasa
latido provocante a noite
e um mistério rezado e comandado por mim
10 ave marias, respondidas por 10 santa marias

Foi como falar particularmente com alguém
invocar e ser recebida
foi pelo vô e pela vó que orei
mas tudo aquilo curava minha insegurança
respondia ao meu encucamento
dava um tapa na minha imaginação

A fé, a busca, a calma,
é mais que amor
mais que religião
é família.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

o sim e o regredir (ou não).

E finalmente abrira
Quando "sim" se tornou meu
Quando a permissão, agora reconhecida pela mãe, começou a engatinhar

Tinha medo de lhe viciar no bico
poderia deixar meu "senso crítico" frouxo
Ou no minimo dentuço.

E "sim" gostava do voo, apesar da sua maturidade de galinha
Via os poleiros como um atraso, por isso ninava-o no pé da cancela
Mas ele fazia o que queria, de qualquer forma criava-o como um passarinho manso.