Abas

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

já não vale respirar tão mal
por não enxergar tão bem
não vou fazer casa nesse baldio sem vista
nem passear
nem mesmo os passeios servem
sem horizonte.

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

palavras poucas sobre a verdade

gosto quando sorri perto do meu rosto
e do teu olho embaçando com os cílios
de como respira silenciosa
e gosto dos teus sustos
do jeito que me conversa
entende com bonús
e finaliza com sorrisos
gosto dos meus sustos
e do teu protelar
pra ir 
do cheiro sem promessas no sofá
porém a certeza no ar
dos encontros 
gosto dos nossos sustos




quinta-feira, 4 de julho de 2019

molhado

não mais lhe escrevo
não dividimos
nem dialetos
a lingua difere
falta não fere
macia fonte molhada
ritma espasmo
do fim aos poucos

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palavras curtas não dividimos nem dialetos lingua difere molhada febre lembrança cega macia fonte derrama espasmos do fim aos poucos extinto brilho prata num prato de comida árabe

quarta-feira, 24 de abril de 2019

A condição humana
é essa lágrima
na ponta do queixo

é a abstinencia
do soluço
depois de tanto prender a respiração

é o ver
é o provar
é cegueira e gulodice

é pensamento desgovernado
pronunciado
com o timbre da tua maior saudade

é pensamento controlado
transbordando
a gaveta da resiliência

É existir
com gosto de nascer
a cada vez que se perceber









Tudo se apagou
junto com a estrela cadente
que rasgou o céu

Foi um pedido.

sexta-feira, 19 de abril de 2019

atravessando o silêncio

nesses momentos de silêncio
decanta em mim um desejo
de presença mínima
bóio rodeada da suposta saudade
não extinta por completo

Na ausência da venda que me cobre os olhos
e me dissolve a dúvida
eu abro algo sem nome
dentro de mim
como quem diz "é só hoje"
pra que você
projete
o teu pensamento
naquele lugar que cavou
enfraquecido
mas ainda vivo

calculo nos dedos invisíveis então
as vezes que pensou em mim em silêncio
olhando
pra o meu suposto logunedê
pro ascendete de Gil
pro instrumento que te dei sem embrulho
assim como tudo que te dei.

Tu guarda pra lembrar
ou pra esquecer?

Tu não calcula como eu.
E se calcualar
de nada adianta.

Mas adianta quando quebro o silencio
E pode ser com a minha própria voz
presença física do meu desacordo

toco o chão gelado com os pés anestesiados do agora
eis a condução do calor presente
É nessa hora que faço do passado nada
perto do futuro.

Eu me percebo aqui. Depois do silêncio.





quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

meu abandono

Eu sofri até o ponto necessário.
Até a linha lanzuda do teu abandono
não ter mais como se esticar
enrolando minha garganta.

Eu me achava desencorajada
e desrespeitava a minha fraqueza.
Achei que sentia mais do mesmo todos os dias
enquanto meu processo passava invisível diante dos meus olhos molhados.

Mas agora
chegada a hora do meu abandono
eu renuncio de tudo isso.
Eu renuncio do teu lençol de flores pequenas
Eu renuncio do barulho das cadeiras de tua cozinha
E de toda cúrcuma.

É que preciso renunciar do teu silêncio.

Agora. Ou mais breve do que nunca.



terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Enquanto houver pais,
ainda seremos filhos.
Depois disso seremos menos.
Seremos daí até o desnacer,
até a próxima certidão,
indigentes do misterioso existir.
Órfãos de respostas e certezas.

Mas enquanto houver pai e mãe
Enquanto houver responsáveis
por tal chegada não explicada
Nos seremos criação de alguém
E não somente poeira cósmica

Ass: Júlia, a Guimarães de mãe, a Carvalho de pai