Abas

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Nem sempre. Vez em quando.

As vezes a gente começa com o "as vezes" e as vezes a gente nem começa. Porém não são todos os dias em que conseguimos arrancar poesia do que passa desatento cotidianamente aos nossos olhos . Não são todos os dias em que enxergamos partituras nos fios dos postes ou simplesmente observamos a paciência do cobrador de ônibus. Não são todas as manhãs que encontramos senhoras caminhando com um terço em mãos. Nem todas lhe encaram timidamente na esperança de receber um bom dia, mas quando ele vem,  ela volta a se concentrar em suas ave-marias mais embaladamente. Não são todos os dias que encontramos um cachorro deitado nas entrelinhas de sombras de um viaduto, exposto a uma única de sol, absorto, olhando pro céu com os olhos semiabertos. Nem sempre ele sorri. Nem sempre ele lembra da língua insistente que carrega na boca. Também não são todos os dias que alguém se preocupa em acordar uma figura cansada no ônibus para que ela não perca o ponto. Alias, não é todo dia que você dorme no ônibus. Tem dias que a rotineira volta pra casa vira passeio. O intervalo vira recreio. E a gente passa a ver o trânsito como uma grande oportunidade de criar historias e tirar cochilos.

3 comentários:

  1. No ônibus há quem durma, quem transpire, quem reclame, quem cochile, quem leia, quem dispute lugar sentado... É realmente um palco de muitas histórias.

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  2. belíssimo texto! verdade descrita com talento.

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