Abas

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Feita de Sertão,
de amarelo com azul,
de terra com céu.

É o pé no chão
no pé de chão.
O chão na palma da mão.

O plano é árido
E tem sempre um plano
E um bussola que aponta pra si.

Dono do que faz.

Manda recado
Faz promessa
Mata a sede com abundância.
Enchente de fé.

A espera é ao som de grilo
grilos que vivem
no melhor pedaço do mundo.


segunda-feira, 10 de novembro de 2014

magoar ou sarar?

Se fazer poesia dói,
o que fazer com as feridas,
se não soprá-las com palavras?

Arde entender o comportamento do nosso íntimo
diante dos pouquinhos do Mundo.

Cada pedacinho de pensamento
é suficiente para nos tornar mais sensíveis ao belo,
e mais pensantes ainda frente a tragédia.

Tudo bate com mais força.
O óbvio passa despercebido,
e a essência das coisas mexe com os poros.

E vale a pena,
afinal, o que é a auto-realização do artista
se não o fruto do que lhe provoca?





Júlia Carvalho







quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Vida: substantivo feminino.


Aprendeu a vida, não sei com quem, a ser fazer de difícil.
A contrariar as expectativas do inconsciente
e chegar atrasada para as do consciente.

Bruta, só é fogo quando quer.
Sabe ela (e aceita)  que surpresa só é surpresa se for de surpresa.

De fato a vida se dá melhor com o tempo que nós, donos ansiosos.
Ela não envelhece, faz do presente botox
e do futuro não faz tanto assim.

Danada demais pra ser constante,
sabe ela que os segundos
passam devagar, mas as horas não.


A vida não segura ninguém.
(a gente que se segure!)


Júlia Carvalho

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Banana real

Já não quero ler sobre folhas que caem,
sobre vento que bate
ou qualquer outro contraste de leve com pesado.

Chega de tanto olho pro alto,
aridez de asfalto
de contar imensidão.

Hoje eu quero abraçar nada mais do que está na minha frente.
Abraçar com o que se sente,
sem essa de sentar pra pensar.

Avante não digo,
"avante" me tosse facista
E eu hoje tô natural,
nem do bem, nem do mal,
com açucar cristal,
que nem banana real.

Júlia Carvalho

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Psychedelic mind

Querido, eu quero apagar as luzes e dançar ao som de Lana sob as luzes do meu abrir e fechar de olhos. Porque eu sou louca, baby. Eu vou descer essas escadas e sair correndo, eu sou perturbada e um carro quase me pegou. Eu vou tomar o drink da mão daquele cara, eu vou tomar, eu vou aceitar dos estranhos. As luzes inexistentes ainda estão a piscar. Você se incomoda com isso? É divertido e pisca no ritmo da minha corrida. Eu amo você, baby. Eu amo você. Eu sucumbi ao delírio, venha comigo, venha. Dança e olha para o céu que é o mais bonito de tudo nesse mundo, mas tem também o mar. As tuas vibrações com as minhas, põe teus dedos rente aos meus. Vem comigo, vem. Tem de vir dançando. Somos duas estrelas cadentes agora, alguém nos verá e poderá fazer duas súplicas. Você não quer vir? Você quer fazer amor? Então faremos. Chama-me de Carmim, de Scarlet e Rubi. As minhas bochechas elas estão da cor do pôr do sol. Sublime. É amor e posso sentir, você também? Esse suspiro diz que sim. Deite aqui do meu lado. Sua pele, ela é tão bonita e dourada de sol. Você prefere o mar e eu acho que você tem razão. Você entende tudo o que eu falo? Alguns dizem que eu estou doente e cada vez que eu ouço isso, baby, eu tenho vontade de mergulhar mais em mim mesma. As pessoas não valem nada e você vale tudo. Agora me dê um gole disso aí. Sabe, minha infância foi tão confusa, você conhece a minha história. Eu cresci, mas as memórias, a gente não tem a opção de apagá-las, elas me fazem padecer. E é por isso que nós bebemos não é? Para percorrer outros caminhos da mente. É bom ter você aqui, é lindo que você esteja segurando a minha mão enquanto eu falo. Posso deitar sobre o seu corpo? O amor é a droga mais forte, a alucinação mais louca e inexplicável, é o melhor êxtase que existe, não é, meu amor? 

Hilza de Oliveira

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Uma salva de risos, por favor.

Traço como meu
o objetivo de esticar as bocas alheias.
Cirurgiã do humor,
quero arrancar sorrisos que escapulam o rosto.

Encher seus pulmões,
menor e maior, de puro ar
e pocar de rir todo dono de alma
como plástico bolha.

É de prazer que falo. É por prazer que faço.
Cosquinhas embaixo da orelha,
Dentes fresquinhos ao ar.

Desapego as regras.
Reinvenção do óbvio.

­­
Meninas regras,
regadas a equilíbrio,
que desabam ao riso,
tentadas em sua puberdade.

Essa coisa de revolução do humor
é pura piada com amor.

Júlia Carvalho

segunda-feira, 28 de julho de 2014

O acho, o mato e o céu.


Acho que nasci pro mato.
Digo "acho" porque tenho medo de cobra.

Dizem que Deus não dá asa a cobra.

Mas se ele tivesse dado, eu teria medo de olhar pro alto.
E também acharia que nasci pro céu.


Júlia Carvalho


(imagem: autor desconhecido)

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Gangorra.



Coloca em B# que ela vai escrever.
Tão sustenido quanto o pensamento suspendido,
que mal existe, mal pode ser.

Cercada por palavras alheias que atravessam sem precisar,
Razão besta de ser, tão besta, que mal pode ser.

Pouco pontuda, suave de dar medo.
Tempo estranho pra sonhar
Tão estranho, que nem deveria ser.

Mas se não fosse esse palpável, “sentivel”, a gente sentava sem sentir o vento, e de nada valeria esperar.
Por isso o tempo se move como uma gangorra, tem horas que pende pro passado, tem horas que agacha pro futuro. E só assim pode ser.

Júlia Carvalho.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Som vivo.

Viver com ternura é sentir o acumulado nas entranhas como parte do processo. É ouvir o apertar da sanfona. Não o som do fole. Falo do barulhinho das teclas velhas ao serem pressionadas. Saber que nem todo barulho é ruído. Que os sons que vida prega também são mensagem, memória, sinestesia.
Viva o som vivo e habilidoso.
Viva o som que toca.
Toque o som que vive.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O Canto nu.

O canto solto no ar.
Amigo do silencio
Dueto infalível

O resto de ar na garganta
O que fica entre as dobras
E escapa pelas pontas
preenchendo intervalos pirracentos
Enfeitando-os de cor.

As onomatopéias sem por quê
Mas cheias de pra quê.

Ah, o canto nu!

Há a explosão!

Júlia Carvalho