Abas

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Saga de uma flor


   A garota passeava sobre seus sapatos de laços desamarrados pelo grande jardim, onde as pessoas brotavam, cresciam e se reproduziam como flores. Ela sempre encontrava mães perto dos pântanos segurando suas crianças, via homens cavando a terra com suas raízes violentas e velhos carvalhos contando histórias para as rosas que sentavam à sua volta. Esta pequena menina atendia por Dolores ou Lô, como era chamada por sua mãe. Procurava nesse jardim uma função, ela não sabia se enterrava suas raízes e fazia fotossíntese, como o resto dos moradores dali, ou se partia para plantar suas sementes em outros paraísos. Não entendia como, apesar de todos ali viverem em harmonia, muito felizes e satisfeitos, lhe aconselhavam a partir para longe. O que havia de tão entorpecedor lá fora? O mel das abelhas de lá é mais doce? Há mais sombra e água cor de céu? Dolores olhava para o horizonte todo fim de tarde e olhava o sol se pôr atrás da colina colorida, o que havia lá atras além de um sol guardado? Via-se o clarão subir por detrás da elevação, ela imaginava muitos vaga-lumes dançando o Bolero de Ravel. Vaga-lumes de luz verde, daqueles que moravam dentro do fogão a lenha de sua vó, onde o fogo não queimava, só aquecia. As luzes lhe chamavam, ela ouvia musica sair dali, apesar do vento não soprar muitos ruídos pro lado de cá. A música da colina chamava Lô como uma Iara chama os pescadores pro fundo do mar, não tinha outro modo de ser. Lô arrumou todo seu pólen dentro de suas pétalas e atravessou o portão do seu paraíso, o resto ela ainda não contou a ninguém.

Júlia Carvalho

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